2 de novembro

Claridade difusa vinda das nuvens densas.
Domingo sempre tem um quê de melancolia quando amanhece nublado. E talvez mesmo em dias de sol.
As nuvens decidiram vir ao chão desta terra, apenas para ver como as coisas estavam.

(…)

Entardeceu.
Fez-se luz.
Não como o primeiro dos primeiros dias, quando se ouviu um “Faça-se luz!”, mas o fato é que vi tudo iluminado pela luz do sol nesta tarde de domingo.

(…)

Cemitério. Destino de todo-aquele-que-habita-a-cidade e que lá repousará algum dia.
Passei por lá. Entrei. Tudo era tranquilo. Vez ou outra, pássaros conversavam entre si e diziam que não iria chover de novo.
Ouvi outros sons. Não, não era de pássaros ou de pessoas do além-túmulo.
Em alto e bom som, “prosas” entremeadas:

“Mas e foi? Eu nem sabia,’minino’… Mas pra você ver como são as coisas…”
“Pois foi… Noventa e sete anos! Mas a véia tá viva ainda… Tá!”
“E num é que era filha de D. Fulana da rua tal? Morreu faz mais de dois mês.”
“Ó pá aqui… Isso era um bicho ruim… nunca vi! Deus que me perdoe, mas esse mereceu.”
“Num tô nem achando de Seu Fulano ‘peraqui’… Deve ‘di’ tá ali na frente”.

(…)

Resolvo sair de cena. A inquietude cessa.
No portão, uma senhora entra:
“Eeeeeei… Aí ‘né’ mercado não!”
Pausa.
“Eeeeei… Tô ‘dizeno’… Aí ‘né’ mercado não!”

Eu rio [quiçá, mar!]
Meu semblante não demonstra.
O burburinho não cessa, mas se distancia à medida que meus passos avançam.
A garganta se prende. Os pulmões se contraem.
A pequenos e delicados passos, a melancolia me acompanha na saída.
“Quantos já se foram… quantos estão por vir…”

(…)

Claridade profusa vinda do sol intenso.
Domingo nem sempre tem esse quê de melancolia quando entardece ensolarado. E talvez nem mesmo em dias nublados.
As nuvens decidiram passear por outras terras, apenas para ver como as coisas poderiam estar do-lado-de-lá.

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