água-cidade: pedra bonita

Era menino, um tanto mais do que sou hoje.
A cor escura, escura, escura, da cor da pele de Lúcia contrastava com a parede branca e os tapetes de crochê feitos pela minha mãe: os móveis eram sempre banhados de um líquido viscoso para itens de madeira. O cheiro de sábado invadia a casa sob o som de alguma música que integrava a trilha sonora do filme Flash Dancing. A fita cassete era então colocada em seu lado B para dar continuidade aos cheiros de desinfetante, água sanitária, a roupa com água e sabão; a fritura, o feijão, o arroz. A TV ligada, vinte e nove polegadas, e eu não a escutava bem o suficiente. O controle retangular com botão de ligar, bem ali, em sua cor que um dia foi vermelho, sempre no ringue: meu irmão e eu precisávamos, sim, sempre, disputar pela programação televisiva. Por vezes, hoje consigo ver, apenas por pirraça, mesmo quando os interesses eram afins.
Sob a robusta tela, um móvel feito sob medida comportava também um aparelho receptor e um tocar de fitas VHS, o qual permanecia imóvel sobre as tiras de madeira.

Pra mim, o dia sempre começava mais intenso, menos desgastante, menos atarefado. Lá, sobre a cama de madeira de lei, ali mesmo, minha mãe deitava após todo o roteiro programado para a manutenção das casa.

Por vezes, apenas algumas, eu a vi dançar entre uma tarefa e outra.

 

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